viernes, 16 de marzo de 2007

AO PERFUME


O ódio é um péssimo companheiro. Filho do descontrole emocional, é quase irracional. Com ele o império vira bicho: se retrai, se contrai, se destrói. Não se faz herói da prepotência nem da indecência pois a conseqüência é o lixo.
A indignação não é ódio. É razão misturada a sentimentos. Sem momentos de avalanches, que desmanchem a consciência. É clemência, paciência e generosidade. É não aceitar pela metade algo que deve ser inteiro. É ver no desconhecido um companheiro quando luta pela mesma liberdade.
O ódio do império esconde um grande medo: ser surpreendido por segredos. Por isso alimenta a mágoa, que lhes cega a esperança. Fica com a desconfiança de beber a própria água. Repetindo: de que vale a prepotência a ganância, a intolerância e a mágoa, se, quem se diz dono do mundo, no fundo, tem medo de beber a própria água?
É bom ver a opulência desmanchando-se em poeira. É como se uma espessa cabeleira fosse varrida pela ventania, pagando em um só dia, o que fez o tempo inteiro. Sentindo de perto o cheiro da vergonha do Rei que ficou nu. Sem ninguém que o conforte, como um chicote em sua mão, batendo sem perdão, no próprio couro cru.
Satisfação; é um sentimento onde se mistura suspiro com sorriso, onde o juízo acalenta a utopia. Vê, prevê e guia, a arte de edificar ternura.; um renascer em cada criatura que se alimenta de eterna rebeldia.
Chega o dia em que os tiranos ficam como os cães idosos que perderam os dentes e já não mordem, mesmo mantendo nos velhos olhos a sanguinária ira. Suas causas são feitas de mentiras e não servem para animar a liberdade. Nem a noite que amedronta controla a eternidade. Ela não detém a ousadia da luz, que arrebata seu capuz, com gestos de solidariedade.
A mesma força que obriga os tiranos a se unirem, pode levá-los à destruição. A força dos povos nutre-se de indignação. Pode acordar em luta após a longa pausa, e unir-se ao redor de uma só causa: pisar sobre os tiranos e resgatar em dias todos os anos, que se perderam por debaixo da opressão.
Como as florestas incendiadas clamando pela chuva se parecem as nações, devendo aos tiranos o que já não podem mais pagar, como o fogo que queima de vagar até chegar ao lago da revolta. Ali o grande encontro guarda uma saída: voltar, e numa festa, fazer como a floresta: em cada galho, ver um atalho que deixa brotar a nova vida.
As mãos dos lutadores estão ligadas aos braços que distribuem abraços, e não à violência e ao terror, estas são as armas do imperador, que faz da dor a sua missão. Põe a culpa de seus atos em quem canta uma canção, condenando a harmoniosa melodia. Esconde-se por trás da economia como um rato a espreitar o queijo, e não sabe o calor que tem um beijo, pois sua boca só mastiga covardia.
É portanto conveniente, espalhar a semente do amor como um costume. Pois, por mais que o ódio provoque muita dor e, leve o tirano em sua ira até pisar a flor, terá sempre primeiro que, passar pelo canteiro e respirar o seu perfume.


A . Bogo

1 comentario:

V@nderlei Ferreir@ dijo...

Camaradas, esta Carta esta muito boa. "Em tempos de escuridao é preciso nao deixar que o odio e a ganancia deixa os coraçoe vazios de esperança..."

Abraços.